Angola salva o ano aos vinicultores
Crise internacional afectou as exportações em 2008, que desceram quase 19%. Num ano em que a colheita foi inferior em quantidade, mas de melhor qualidade, a boa notícia é que em termos de receitas as exportações portuguesas subiram três milhões de euros.
A quantidade de vinho exportado por Portugal em 2008 diminuiu quase 19%, embora em termos financeiros a crise internacional acabasse por não afectar os produtores portugueses, que conseguiram fechar o ano com um ganho superior a três milhões de euros, de acordo com os dados mais recentes do Instituto da Vinha e do Vinho.
Angola foi o principal responsável pelo facto de os produtores vinícolas portugueses terem tido um ano mais positivo do que poderiam imaginar, tendo em atenção as quebras em mercados importantes como os Estados Unidos, Reino Unido e França. Apesar de uma diminuição de 37 mil hectolitros no volume, as compras angolanas subiram mais de 7,6 milhões de euros em valor.
"Angola foi o nosso melhor mercado em 2008. É um mercado formidável, a que se tem prestado pouca atenção, mas ao qual temos de prestar mais, porque tanto leva vinho a granel - óptimo para escoar o excesso de produção - como tem imensos restaurantes e hotéis que querem vinho da melhor qualidade," adiantou Vasco d'Avillez, presidente da ViniPortugal, a associação que promove o vinho português no exterior.
Os números não incluem o vinho do Porto e o vinho da Madeira, cujas exportações (em quantidade) também caíram em 2008: o Porto caiu 5,7% e o Madeira 10,8%. Mas como as exportações para Angola não são significativas, os resultados também foram afectados: os exportadores de Porto perderam 7,8% de receitas e os do Madeira 10,4%.
Apesar de tudo, os produtores parecem optimistas em relação ao futuro e as notícias de que as vendas de vinho português nos mercados do Reino Unido e EUA subiram nos primeiros três meses do ano parecem contribuir para uma visão mais positiva para 2009, mesmo tendo em conta que a crise económica deverá prolongar-se por mais algum tempo.
Até o facto de a colheita de 2008/2009 ter diminuído 7,2% face à campanha de 2007/2008 é visto como um factor positivo para o vinho português, pois aumentou a qualidade da produção, o que permitirá reduzir gradualmente o peso do vinho a granel e de mesa (de qualidade inferior) nas exportações.
Longe vai o tempo em que o vinho nacional não era conhecido pela qualidade. Hoje, como diz Tiago Caravana, director de marketing da Comissão Vitivinícola do Alentejo, "os vinhos portugueses podem perfeitamente competir na relação preço/qualidade com os do denominado novo mundo (Argentina, África do Sul, Austrália, Chile e Califórnia)," cuja entrada em força nos anos 90 mudaram a estrutura do mercado internacional.
"É certo que, quando entraram, estes vinhos tinham uma boa relação preço/qualidade que neste momento já não é a mesma. Portugal tem vinhos muito competitivos e um factor de diferenciação que são as castas únicas, que se diferenciam dos Cabernet e dos Merlot. Só falta promovê--las, porque só se tornam um factor de escolha se o consumidor estiver informado", diz Caravana.