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Menos vins portugaises

VJ, Revista HiperSuper | 09-03-2006
Ocupando a segunda posição como produtor de vinhos de mesa a nível mundial, a França importou, em 2004, mais de 22,6 milhões de euros em néctares portugueses. Curiosamente, foram os brancos nacionais a registar maior evolução nas exportações, quando em anos anteriores os tintos davam cartas.
Portugal exportou, no ano 2004, aproximadamente 515 mil hectolitros de vinho de mesa (engarrafado e a granel) para França, correspondendo a um valor superior a 22,6 milhões de euros. De acordo com um relatório efectuado pelo ICEP (delegação de Paris), tendo por base números do Instituto Nacional de Estatística (INE) e das autoridades alfandegárias francesas, estas exportações representam uma diminuição de cerca de 19,8 por cento em volume e nove pontos percentuais em valor relativamente ao ano anterior. Na realidade, as exportações portuguesas para França tinham registado uma evolução de 2002 para 2003, espelhada pela subida das mesmas em mais de 332 mil hectolitros, passando de 309 mil para mais de 642 mil hectolitros, equivalendo tal crescimento a um correspondente incremento no valor, passando este de 16,8 para perto de 25 milhões de euros.
 
Óptima "colheita" em 2003
 
Analisando mais detalhadamente as importações francesas de vinhos de mesa provenientes de Portugal ao longo dos últimos três anos, poderemos verificar que os tintos dominavam em 2002, situação que se veio a evidenciar ainda mais no ano seguinte. De facto, em 2002, a França importava 309 mil hectolitros de vinho de mesa, sendo 42,6 mil litros branco e 267 mil tinto, no valor de 4,6 e 12,2 milhões de euros, respectivamente. Os dados do relatório evidenciam, contudo, um peso significativo dos vinhos a granel em volume, verificando-se que dos 309 mil hectolitros exportados, mais de 267 mil hectolitros eram de vinho a granel, correspondendo a um valor total de 7,6 milhões de euros, enquanto nos néctares engarrafados se registe um enorme desequilíbrio em volume com pouco mais de 42 mil hectolitros, mas um valor "interessante" de 9,2 milhões de euros.
 
O destaque entre as exportações portuguesas para França vai claramente para o vinho tinto, com uma quota de 86 por cento em volume e 73 em valor. Dentro desta cor, foi o vinho a granel que mais se exportou para França no ano de 2002. Viajaram para terras gaulesas mais de 241 mil hectolitros no valor de 6,9 milhões de euros, enquanto nos vinhos engarrafados, o volume apresente uma baixa drástica para 25,1 mil hectolitros, embora, em valor, este mostre uns surpreendentes 5,4 milhões de euros.
 
Já nas exportações de branco, representando 14 por cento em volume e 27 em valor do total de vinho exportado para França, em 2002, a desproporção entre vinho a granel e engarrafado não foi tão significativa. De Portugal viajaram para França 17 mil hectolitros de vinho engarrafado no valor de 3,8 milhões de euros, enquanto no que diz respeito ao vinho a granel, os 25,6 mil hectolitros representassem somente 753 mil euros.
 
O ano de 2003 trouxe um incremento significativo nas exportações de vinho português para França, duplicando os números em volume, mas em contrapartida mostrando uma evolução em valor muito menos expressiva (excepção feita no vinho a granel). De acordo com os dados das autoridades alfandegárias francesas, Portugal exportou, em 2003, mais de 642 mil hectolitros de vinho, equivalendo este volume a aproximadamente 25 milhões de euros. Isto é, em apenas doze meses, a França importou mais 332 mil hectolitros de vinho, fixando o total nesse ano nos 642.390 hectolitros. Já em valor, a passagem de 16,8 para 24,9 milhões de euros corresponde a mais oito milhões de euros de vinho vendido.
 
Efectuando a mesma análise, mas em relação aos números apresentado para 2003, verificamos que o tinto registou uma evolução bastante mais significativa que o seu "congénere" branco. Em volume, as importações francesas de tintos portugueses subiram mais de 307 mil hectolitros, constituindo a evolução registada nos vinhos a granel a razão para este incremento.
 
De facto, os vinhos a granel passaram de 241 mil hectolitros (em 2002) para 534 mil hectolitros, significando isto mais do dobro do que se tinha exportado no ano anterior. Este aumento na exportação de vinho a granel, em volume, foi acompanhado pela subida no valor das exportações de vinho a granel, passando este de 6,9 para 14,8 milhões de euros.
 
O vinho tinto engarrafado registou, por sua vez, um comportamento algo estranho, dado apresentar uma subida em volume, mas uma descida em valor. Se em quantidade, as exportações de vinho tinto engarrafado português para França evoluíram mais de 14 mil hectolitros, passando de 25,1 para 39,5 mil hectolitros, não deixa de ser assinalável a redução que essas mesmas exportações registaram em valor, verificando-se uma redução de mais de 300 mil euros, ou seja, de 5,4 passaram para cinco milhões de euros.
 
No caso do vinho branco, os números apresentados no relatório divulgado pelo ICEP, mostram-nos, igualmente, uma evolução positiva, embora esta se limite aos vinhos a granel. Enquanto neste caso, as exportações para França registem um aumento de aproximadamente 28 mil hectolitros, fixando o volume total exportado de vinho a granel nos 53,1 mil hectolitros, correspondendo a 1,6 milhões de euros, o vinho engarrafado manifestou um comportamento muito diferente. Nesta categoria marcada pela quebra, registou-se uma redução de dois mil hectolitros em volume, fixando a quantidade total exportada por Portugal para França nos 15 mil hectolitros. Também em valor, as importações francesas conheceram uma quebra, perdendo Portugal cerca de 350 mil euros, passando de 3,8 para 3,5 milhões de euros.
 
Branco contradiz quebra em 2004
 
Ocupando a terceira posição como fornecedor de vinhos de mesa, Portugal viu as exportações para França em volume diminuírem cerca de 20 por cento relativamente ao ano anterior, a que corresponde uma variação de nove pontos negativos em valor. Esta quebra nas exportações nacionais de vinhos de mesa para França teve no vinho tinto o principal responsável, uma vez que só esta cor de vinho apresentou variações negativas.
 
Se o ano de 2003 representou uma evolução significativa nas exportações portuguesas de vinhos de mesa para França, 2004 poderá ser considerado como "annus horribilis". De 2003 para 2004, viajaram menos 127 mil hectolitros de vinhos de mesa de Portugal para França, fixando o volume actualmente exportado para terras gaulesas ligeiramente acima dos 515 mil hectolitros. Em valor também se registou uma descida, perdendo a balança comercial portuguesa neste caso particular um pouco mais de 2,2 milhões de euro, fixando o valor actual nos 22,6 milhões de euros.
 
Analisando ambas as cores de vinho, podemos perceber que, enquanto os tintos registaram descidas de 24 por cento em volume e 13,9 em valor, face ao ano anterior, os brancos revelaram um comportamento completamente diferente, apresentando, globalmente, subidas de 15,7 pontos em quantidade e 10,1 em valor. O destaque vai, contudo, para os tintos, dado no vinho a granel Portugal ter perdido 23 e 17,4 por cento em volume e valor, respectivamente, face a 2003. Isto coloca a quantidade de vinhos a granel exportada para França nos 411,6 mil hectolitros, enquanto na casa do valor, o recuo de 17,4 pontos coloca este número dos 12,2 milhões de euros. Se a situação do vinho a granel foi má, a do vinho engarrafado não se apresentou melhor em 2004, descendo em volume 37,4 por cento e em valor 3,6, correspondendo a um total exportado de 24,7 mil hectolitros e 4,8 milhões de euros, respectivamente.
 
Já nos brancos, o quadro apresenta-se completamente inverso. Evidenciando uma subida global de 15,7 pontos em volume e 10,1 em valor, os vinhos a granel mantêm-se destacados nas exportações. A subida de 17,6 pontos em quantidade coloca o volume de vinhos a granel importado por França acima dos 62,4 mil hectolitros, enquanto em valor, a evolução de 22,6 por cento deixa as exportações muito perto dos dois milhões de euros.
 
Nos vinhos de maior qualidade, ou seja, vinhos engarrafados, também foram registadas subidas, sendo de destacar a evolução de 8,9 por cento, em volume, enquanto em valor a subida de 4,4 pontos demonstra que os produtores portugueses venderam aproximadamente 3,7 milhões de euros de vinhos engarrafados.
 
Quanto aos vinhos engarrafados na origem, a exportação portuguesa coloca o nosso país em sexto lugar, perdendo quota de mercado relativamente ao Chile (5,7%) e Austrália (5,6%). Por países, a Itália, tradicionalmente o primeiro fornecedor da França de engarrafados na origem, detém uma quota de mercado de 29,7 por cento em volume, o equivalente a 245 mil hectolitros, enquanto a quota, em valor, se fixou nos 21,6 pontos, correspondendo a 40,6 milhões de euros. Com 192 mil hectolitros, a Espanha detém uma quota de mercado de 23,3 por cento em volume e situa-se na segunda posição como fornecedor de vinhos engarrafados na origem, equivalendo as suas exportações em quantidade a aproximadamente 24,5 milhões de euros.
 
Finalmente, o relatório elaborado pelo ICEP (delegação de Paris) revela que os pontos fortes na oferta portuguesa de vinhos se resumem à qualidade, tradição, castas próprias, destacando ainda o mercado da saudade, bem como a relação preço/qualidade e a oferta variada. O relatório não assinala, contudo, somente os pontos fortes na oferta dos produtores portugueses, referindo como pontos a melhorar a imagem, o défice de apoio do exportador e de promoção, como também o excessivo peso do vinho a granel.
 
Vinhos franceses?
 
Possuindo cerca de 920 mil hectares de vinha, correspondendo a 1/4 da área vinícola da EU 1/9 da mundial, França ocupa actualmente a segunda posição como produtor de vinhos de mesa a nível mundial, em igualdade com a Itália e depois da Espanha, apresentando uma produção média anual próxima dos 60 milhões de hectolitros.
 
As vendas de vinhos franceses para o exterior elevam-se, em média, a cerca de 16 milhões hectolitros por ano, representando este número aproximadamente 25 por cento da sua produção. Como principais mercados importadores aparecem países da UE, com cerca de 75 por cento, salientando-se ainda os EUA (7%) ou o Japão (6%).
 
Não obstante a sua produção elevada, a França importa quantidades muito apreciáveis de vinhos de mesa, calculando-se em média que receba por ano aproximadamente cinco milhões de hectolitros. Os dados disponíveis assinalam, contudo, que grande parte destas importações (cerca de 87% do total) é de vinhos correntes ou "a granel” destinados na sua maioria a misturas (vins de coupage), oriundos principalmente de Itália e Espanha.
 
No ano de 2004, as importações francesas de vinhos de mesa (engarrafados e a granel) ultrapassaram os 5,1 milhões de hectolitros, correspondendo a uma evolução de 18 por cento relativamente ao ano anterior (4,4 milhões de hectolitros). GIobalmente, Espanha ocupou pela primeira vez com grande destaque o ranking de fornecedores de França, com um volume de exportação superior a 2,7 milhões de hectolitros, equivalendo a uma quota de mercado superior a 52 por cento. Isto significa que "nuestro hermanos" são responsáveis por mais de metade das importações francesas em volume, fixando a sua quota em 30 pontos percentuais no que diz respeito ao valor.
 
Este comportamento nas importações francesas de vinhos espanhóis é de realçar, na medida em que era a Itália que ocupava esse lugar e que em apenas dois anos perdeu. De facto, em 24 meses, as exportações espanholas em volume duplicaram, enquanto as suas homólogas espanholas viram o seu peso reduzir para um terço. A Itália mantém, ainda assim, a segunda posição, com uma quota de mercado de aproximadamente 20 por cento em volume (perto de um milhão de hectolitros) e 18,4 em valor.

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