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1, 2, 3, vendido! Inglês compra vinho do Porto com 200 anos por 6,75 mil euros

Observador | 08-05-2015 | Geral, Economia
É um apaixonado por vinho do Porto e esta quinta-feira levou para casa um Ferreira de 1815 por 6,75 mil euros, que revertem para a associação de esclerose lateral amiotrófica. É um valor recorde.
Foram cerca de dois minutos e cinco licitações. O vinho do Porto Ferreira de 1815 foi leiloada esta quinta-feira em plena Torre de Londres, entre armaduras e jóias da coroa britânica. Licitação base: 3.800 libras. O “vendido” chegou às cinco mil libras, cerca de 6,75 mil euros. É o valor mais elevado dado por um Porto Vintage, em leilão. O dinheiro angariado no leilão desta quinta-feira segue diretamente para a APELA – Associação portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica.

A quinta pessoa a levantar a raquete levou a garrafa para casa. Não quis ser identificado. Chamemos-lhe John. Inglês, 52 anos, e um apaixonado por vinho do Porto, bebe cerca de uma a duas garrafas por semana. E não é a primeira vez que vai beber um néctar com esta idade. Em 2007, abriu uma garrafa de 1815, de outra marca, para comemorar o aniversário de um amigo.

Na festa dos 50 anos do amigo de John, 12 pessoas beberam um copo deste vinho do Porto do outro lado do oceano, em Seattle, nos Estados Unidos da América. Fez-se silêncio na sala, conta ao Observador: “Era um vinho que se percebia que era velho, delicado, mas sabíamos que estávamos a beber história.”

A data de abertura deste Porto Ferreira de 1815 já está marcada: será no dia em que comemorar o 60º aniversário. Conta que se lembra de ter vinho do Porto em casa desde criança – era uma tradição familiar. E que no dia do 21º aniversário abriu a garrafa que lhe tinham oferecido no ano em que nasceu, 1963.

“Foi aí que percebi que adorava esta bebida. Tenho bebido vinho do Porto desde essa altura”, adianta, acrescentando que cerca de 90% das garrafas que tem em casa são oriundas das caves do Porto. E a porto Ferreira 1815 não é a única. Ao Observador, conta que tem em casa um vinho do porto de 1790. Também comprada num leilão, desta vez em Nova Iorque.

Antes da garrafa Ferreira bicentenária, o recorde do vinho do Porto mais caro do mundo em leilão pertencia ao “Quinta do Noval Nacional” de 1931, que foi leiloado pela Christies, em junho de 2006, por 6.511 euros, ou seja, 4.840 libras.
Mais de 8,75 mil euros para a APELA

O leilão que a Sogrape organizou esta quinta-feira faz parte da iniciativa “Todos Contra ELA”, que o ex-líder da Sogrape, Salvador Guedes, lançou em abril, para ajudar quem, tal como ele, sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica – uma doença neurológica degenerativa progressiva e rara, onde os neurónios responsáveis por conduzir a informação do cérebro aos músculos do corpo morrem precocemente.

O valor reverte totalmente para a APELA, porque a leiloeira Sotheby’s aliou-se à causa e não cobrou nenhuma comissão pelo leilão. Antes da garrafa de 1815 ser licitada, a Sogrape leiloou um lote de seis garrafas de Porto, de vários anos, por 2.026 euros, que também reverteram para a associação. No total, mais de 8,75 mil euros seguem da Torre de Londres para a APELA.

Entre os cerca de 50 convidados estava o embaixador de Portugal em Londres, João de Vallera. Ao Observador disse que a iniciativa era uma “excelente forma” de promover o vinho do Porto, uma marca com uma “dimensão histórica extraordinária”. Conhecido de John, o inglês de 52 anos que levou a garrafa bicentenária para casa, diz que não duvida que o licitador beba o Porto com “todo o respeito, sentimento e emoção que o vinho merece”.

Também ele apaixonado por vinho do Porto, conta que nos jantares da Embaixada de Portugal em Londres não há uma refeição para visitas onde não seja servido um vinho do Porto e um da Madeira. Na Torre de Londres, estiveram presentes apreciadores de vinho, colecionadores e apreciadores de arte em geral, da Europa, Angola ou Brasil.

Em Londres, celebra-se o bicentenário da Batalha de Waterloo, na qual o britânico Arthur Wellesley, primeiro Duque de Wellington, pôs termo ao império de Napoleão, na localidade belga de Waterloo. O Porto Ferreira de 1815 é por isso conhecido como “Waterloo Port”.

Ainda no âmbito do “Todos Contra ELA”, há concertos solidários até setembro, com nomes como o de Paulo Gonzo, Pedro Abrunhosa, António Zambujo e Carminho a juntarem-se à iniciativa, na Casa da Música e no Centro Cultural de Belém.

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