Setores do vinho e azeite esperam que queda do euro favoreça exportações
As entidades dos produtores, comerciantes e exportadores dos setores vitinícola, das conservas e do azeite, produtos também associados ao "mercado da saudade", acreditam que as exportações portuguesas poderão ser beneficiadas com a desvalorização do euro.
"O euro desvalorizou e é bom para as nossas exportações, favorece-as. Este facto torna-se mais importante porque o preço na origem do azeite na Europa subiu bastante em euros, cerca de 60%", disse à Lusa Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite.
De acordo com a responsável da Casa do Azeite, "esta desvalorização do euro, de alguma forma, contraria a subida do preço do produto, pois assim não haverá um impacto tão violento no preço para os países ao qual está destinado o azeite".
O euro atingiu, em meados de janeiro, um novo mínimo em 11 anos em relação ao dólar, tendo sido penalizado pela decisão do Banco Nacional Suíço (SBN) de quebrar o vínculo do franco suíço à moeda europeia.
"O país que mais importa de Portugal, em termos de azeite embalado, é o Brasil (41.839,7 toneladas de azeite em 2013) e, em termos do produto a granel, é a Espanha (43.561,1 toneladas)", disse Mariana Matos.
O Brasil é também considerado um dos "mercados da saudade" -- país em que há uma grande comunidade portuguesa que procura e consome os produtos de Portugal -, assim como a Venezuela, Estados Unidos, Canadá, Angola, entre outros.
"A desvalorização do euro, causada entre outros fatores pela crise na Europa e pela queda nos preços do petróleo, é uma boa notícia para as exportações portuguesas, nomeadamente para as exportações de vinho, porque aumenta a nossa competitividade", disse Paulo Amorim, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE).
Segundo Paulo Amorim, a crise económica em Angola, também devido à queda do preço do petróleo, no entanto, poderá afetar o mercado de exportação de vinhos portugueses para este país africano lusófono, com a possibilidade de "uma queda de 50 por cento".
Os principais importadores do vinho português (sem o vinho do Porto) em 2013 foram os Estados Unidos, Angola, França, Espanha, Brasil, Reino Unido, Canadá, Suíça e Alemanha, de acordo com dados da ViniPortugal, que é uma associação interprofissional do setor vitivinícola.
Portugal exporta 45% da sua produção de vinho, é o 12º maior produtor a nível mundial e ocupa a nona posição no comércio internacional da bebida. Em 2013, o resultado das exportações da bebida foi de 725 milhões de euros, sendo que 1,5% do valor total das exportações nacionais de bens é assegurado pelo vinho.
"Os Estados Unidos são talvez o mercado mais importante onde devemos focar a nossa estratégia comercial e o Canadá também é um mercado muito relevante. Assim como a China, que é um mercado que tem crescido, apesar das suas especificidades, além de Angola e do Brasil", disse Paulo Amorim.
Castro e Melo, secretário-geral da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), disse que o grosso das conservas portuguesas vão para o mercado da União Europeia (70% do produto exportado), assim a desvalorização do euro não tem qualquer influência.
"Entretanto, quando há exportações para países terceiros (30% do produto exportado), é evidente que pode trazer benefícios, mas ainda não é possível quantificar estas movimentações", referiu Castro e Melo.
As conservas portuguesas são exportadas para os Estados Unidos, que é um dos mercados mais importantes, Angola, Venezuela, Brasil, Palestina, Israel, São Tomé e Príncipe, entre outros.