Vinho: fresco, aromático e...sem álcool
Retirar o álcool ao vinho significa um sacrilégio para muitos. Mas para quem não bebe vinho por motivos profissionais ou de saúde esta pode ser uma boa solução.
"O sabor fica o mesmo ou extremamente parecido. Em prova cega é difícil detectar as diferenças", garante ao SOL António Soares Franco, presidente da José Maria da Fonseca, que exporta vinho para mais de 50 países.
A produtora lançou em 2010 o Lancers Free Rosé, cuja graduação alcoólica é de 0,5% – para um vinho ser reconhecido como tal pela União Europeia precisa de ter pelo menos 7%. Tratou-se de uma aposta num nicho de mercado, mas as vendas correram bem e, pouco depois, a empresa criou um Lancers branco sem álcool. E em cerca de dois anos vendeu mais de 250 mil garrafas: "Os resultados superaram largamente as expectativas".
A ideia surgiu na sequência da oferta já existente de outras bebidas sem álcool, como a cerveja. "No nosso caso, já detínhamos a tecnologia que nos permitia "desalcoolizar" o vinho e pensámos que tinha chegado o momento de lançar esta inovação no mercado", esclarece Soares Franco, justificando a escolha da Lancers com o facto de esta ser "uma marca jovem e reconhecida como uma referência nos rosés portugueses". E também muito apreciada por estrangeiros – aliás, mais de metade da produção é exportada.
O processo "puramente físico" é feito com uma destilação por vácuo conseguida através de um processo chamado spinning cone, que retira o álcool com a ajuda do vapor e o separa do líquido.
A mesma tecnologia é usada pela produtora de vinhos espanhola Torres que há cerca de um ano trouxe para Portugal o seu Natureo, também um branco sem álcool.
Isto porque o processo de "desalcoolização" não funciona tão bem com o vinho tinto. O presidente da José da Maria da Fonseca esclarece que "a tecnologia ainda não permite oferecer um produto com a mesma qualidade do branco ou do rosé".
Paulo Amorim, da Vinalda, distribuidora portuguesa da Torres, também não prevê que num futuro próximo a empresa espanhola avance com mais vinhos sem álcool, além do Natureo – o objectivo da produtora é que o vinho não tenha álcool, mas que o sabor "se mantenha completamente inalterado".
Na sua opinião, a maior vantagem é mesmo a despreocupação com os efeitos secundários do álcool, o que pode evitar acidentes rodoviários. «Pode beber-se um vinho fresco, aromático, a acompanhar pratos de peixe e de marisco grelhado ou cozido, sem preocupações com o álcool», realça.
Apesar disso, Paulo Amorim considera que o mercado em Portugal "é ainda muito céptico".
Talvez o facto de ser uma bebida que engorda menos venha a atrair alguns interessados nesta novidade vínica, uma vez que a maior parte das calorias de um copo de vinho se devem ao álcool que contém.
Os dois Lancers, por exemplo, têm apenas um quarto das calorias do vinho original. Já o Natureo tem 19 calorias.