Vinhas não estão preparadas para subida das temperaturas
Alterações climáticas poderão ter de levar produtores a optar por castas mais resistentes
Terão as vinhas da Região Demarcada do Douro capacidade para se adaptar às alterações climáticas? O assunto vai ser debatido, amanhã, em Vila Real, mas os investigadores acreditam que sim. Desde que a cultura se adapte às novas condições.
Os cientistas supõem que as temperaturas máximas podem vir a subir cerca de quatro graus nas próximas décadas, o que numa região como o Douro significará agravar, em algumas áreas de forma fatal, o stresse hídrico que já se verifica durante o Verão. Nomeadamente na sub-região do Douro Superior, onde a pluviosidade é inferior às restantes duas: Cima Corgo e Baixo Corgo. No geral, já têm vindo a verificar-se alterações nas fases do desenvolvimento fenológico das videiras, que podem variar entre 15 dias e um mês.
O regadio da vinha, que legalmente não é permitido no Douro, está a ser encarado como uma séria hipótese para o futuro, pois ajudaria a compensar a insuficiência de humidade no solo. Porém, os especialistas acreditam que haverá outras técnicas culturais que poderão ser implementadas antes, como a opção por castas mais resistentes às altas temperaturas. E neste campo, refira-se, o Douro tem uma apreciável variedade.
Adaptação
Um dos convidados para o seminário de amanhã, organizado pela Liga dos Amigos do Douro Património Mundial, é o director executivo da ADVID, a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense. Fernando Alves está seguro que "o Douro será capaz de se adaptar e de ultrapassar os futuros efeitos do aquecimento global". Pensa que poderá ser vantajosa a "utilização criteriosa e cuidada da rega", como forma de permitir regular o regime hídrico das plantas face a outras técnicas culturais. Mas como a água também poderá ser um bem escasso no futuro, advoga que "a rega não vai ser a solução para todos os males provocados pelas alterações climáticas".
Daí que a sua primeira preocupação seja a construção de referenciais que permitam conduzir a cultura, no sentido de todas as práticas culturais optimizarem o consumo de água por parte da planta. "Só no final é que deve aparecer a rega para compensar o que do ponto de vista técnico ainda não foi possível resolver".
Projecto VITIRISK
É aqui que entra o projecto VITIRISK, liderado pela Associação Ibérica de Municípios Ribeirinhos do Douro e que conta com a colaboração de várias entidades de Portugal, Espanha e França, entre as quais a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O climatologista João Santos é um dos seis elementos daquela instituição de ensino que está a avaliar o impacto possível das alterações climáticas na produção de vinho e sua qualidade, em todas as regiões demarcadas de Portugal, Espanha e França. Exemplos: Douro, Alentejo, Rioja e Bordéus.
É um projecto em que não se pretende fazer apenas investigação científica. Segundo João Santos, a ideia é utilizar os resultados já conseguidos por outros investigadores da equipa e a seguir "desenvolver protocolos e programas de acção para serem aplicados de forma homogénea, mas tendo em conta que as alterações climáticas se farão sentir de forma diferente nas várias regiões".
O projecto prevê ainda a formação de umas largas dezenas de técnicos, que depois irão junto dos agricultores fazer a divulgação desses programas de acção.